sexta-feira, 11 de julho de 2014

Serena do mar (contos da sereia)

I

Serena veio dar na praia...
Deixou-se ficar na areia, ao sol.
Seca, firmou-se sobre suas transformadas pernas. Feliz, foi perambular pelo povoado.
Estava tão curiosa para conhecer o Marujo, aquele de quem suas irmãs tanto falavam,
de quem ouvira tantas histórias.
Já no povoado, Serena observava o movimento, as gentes, em suas atividades diárias.
Distraída, nem percebeu este alguém atrás dela.
- Você demorou tanto! disse a voz em seu ouvido, masculina e rouca.
Seu coração deu um pulo. Ai, só podia ser ele.

Fim do primeiro encantamento.

II

Serena buscou no mar tempestuoso, o seu coração, orando pelos outros náufragos...

Tudo que o Marujo mais amava era o mar.
Assim, quando durante uma violenta tempestade caiu nas águas furiosas, não se desesperou, lutou apenas, como era do seu caráter.
Depois de algum tempo, sentiu-se embalado por uma rede de cabelos macios e escutou, internamente, uma voz suave cantando uma daquelas cantigas de sua infância. Fechou os olhos, sabia que era Serena, sua sereia vinha em seu socorro, parou de lutar e se deixou levar...

III

Quando o Marujo despertou, seus olhos se abriram devagar: estaria no céu?
A cama improvisada debaixo dos coqueiros, ela ajoelhada cantarolando baixinho, nas mãos o pano úmido, carinhosamente passado pelo seu rosto, seu corpo... se ele não estivesse tão exausto pensou, aí sim, teríamos o paraíso, mas é só esperar minha sereia, só preciso do carinho e da brisa da noite, não vai perder por esperar não, viu? meu céu...

Fim do terceiro ato de encantamento.

IV

Com a noite, o Marujo recuperado,finalmente despertou e se deparou com a imensa lua que iluminava o mar, mas ela não estava lá.
Procurou com os olhos,lá vem Serena caminhando devagar peixe assado e água de coco, aí vem ela, sorriso largo e aqueles olhos verdes, águas vivas queimando seu juízo.
- Vem cá minha sereia gostosa, deixa o peixe pra depois...
Depois da boca, das línguas, dos cheiros, das mãos, dos corpos, a noite inteira dos mais devotados jeitos, entregues a todo desejo.
Pela manhã, exausto e feliz, a encontrou tatuada em seu peito e, na areia da praia um pequeno bote de resgate.

V

Já Serena, no mar, feliz da vida carregava em si a humanidade, tatuada em seu ventre.

Fim de todo este encantamento, por enquanto...