sexta-feira, 29 de setembro de 2017

TINDERNESS

Há alguns anos, escrevi um poema em homenagem a uma amiga muito querida que dizia assim:
filosofia de alcova
sexo é bom, amor de ocasião. depende de um contexto. como saber se é certo ou não? é sempre um risco, tiro no escuro. tudo é assim na vida.
amar é bom. melhor é sexo com amor? ou só diferente? quanta gente tenta e tenta? às vezes não somos talhados para tal. nos conformemos.
sexo e amor, fazer o quê? - desce mais uma cerveja! ter os dois seria melhor, entretanto, a embriaguez acaba e não sei quem dorme a meu lado...
melhor esquecer o dilema.
Hoje, esta mesma amiga está casada e feliz com sua melhor amiga.
Até o momento em que escrevi o poema, ela se relacionava apenas com pessoas do sexo oposto. Então, vai saber não é mesmo, que surpresas a vida, a afetividade, o amor têm reservados para nós.
Estou aqui colocando esta discussão em pauta por causa destes aplicativos, agora muito em moda, para a gente sair do 0 x 0 nas relações afetivas de hoje em dia. Na verdade, se pode questionar como fiz no poema se o tal Tinder e outros aplicativos semelhantes, são mesmo uma resposta aos encontros na era da internet, mas não se pode negar que mais e mais pessoas se utilizam desses artifícios para conhecer parceiros de todo o tipo e para sanar as mais variadas carências. A principal delas, a carência sexual.
Sem parceiros afetivos a algum tempo, vários amigos e amigas minhas utilizam este tipo de dispositivo para tirar as teias de aranha, parar de subir pelas paredes e afogar o ganso, o que é sempre muito saudável.
Se estabelece aqui um mútuo acordo que pode ser bem prazeroso para as partes interessadas, não é mesmo? Mas por quanto tempo? Postergar indefinidamente estas relações minimalistas também não pode revelar que estamos estabelecendo relações superficiais e sem verdadeira intimidade? Frágeis relações afetivas exatamente como este tempo tão fugaz e consumista no qual vivemos hoje?
Por outro lado, não se permitir experimentar essas relações, também pode ser uma negação do prazer, mesmo que efêmero e a não se permitir conhecer outras pessoas, até bem diferentes daquelas a que estamos acostumados. O que não deixa de ser interessante e nos faz sair de nossa zona de conforto.
Talvez o que seja importante é não negar o fato de que somos gregários.
Que relações afetivas se estabelecem e que devemos estar abertos a elas. Porque não se enganem crescemos a medida que nos relacionamos e não que nos isolamos em uma caverna. Crescemos a medida que olhamos nossos medos de frente e que podemos exercer nossa loucura e criatividade juntos, já que somos humanos e como tais eternos artesãos de nossas vidas e amores.