sexta-feira, 28 de junho de 2019

O Ódio


Ódio, é o nome de uma música da banda de rock Luxúria, que eu adoro, mas que infelizmente já terminou, quem não conhece vale procurar os vídeos, são ótimos. E quem conheceu, claro vai saber exatamente do que estou falando. Exato, daquele trecho do refrão que repete: o meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra!

Quando a gente escuta a música pela primeira vez, nossa, essa letra é uma porrada surda bem no meio do nosso queixo. Não há quem escute isso e fique indiferente. Essa frase fica cutucando você.

Pelo menos a mim, ah, ela me alfineta o corpo e a alma.

Porque sabem, é verdade: alimentar o ódio é o mesmo que tomar um veneno mortal e intoxicar o nosso corpo pouco a pouco ou às vezes, muito rapidamente. É matar a si mesmo na esperança de que o outro, o objeto de nosso ódio, morra.

Mas a não ser que o façamos de verdade, isto é, que o assassinemos, todo o ódio e o rancor que alimentamos apenas se volta para o nosso próprio corpo nos matando lentamente, nos curvando sob o peso do monstro que pintamos.

Todo o ódio que foi disseminado no período eleitoral e que continua até os nossos dias, está deixando esta nossa sociedade doente.

Minha esperança é que todo esforço empregado por grande parte da sociedade para desmascarar  todo esse retrocesso, prevaleça.

É muito triste ver pessoas cultivarem ódios e rancores, passando pela vida amargas principalmente porque isso gera complicações físicas. Sim, não é à toa que a frase nos diz que "nós ingerimos veneno", pois é, esse veneno gera consequências em nosso corpo: ele nos intoxica, nos fragiliza e interrompe o livre fluxo de energias, em algum ponto ele cria um nódulo feio, talvez mesmo um câncer que irá nos corroer por dentro.

E o estranho de tudo isso é que acreditamos mesmo que com nosso ódio e nossos impropérios, estamos atingindo "o outro", quando estamos atingindo somente a nós mesmos.

Ninguém aqui está dizendo que perdoar é fácil. O processo de cura, por vezes é longo e sofrido, mas é sempre o mais necessário.

A cura do ódio, dos ressentimentos, dos rancores, não é simples. É um processo difícil, mas existem pessoas e existe Deus pra nos ajudar, seja qual for o Deus que esteja com você.

Exige muito, mas muito amor por você mesmo. Exige um desejo profundo de nunca desistir da gente mesmo e exige sonhar, ter um sonho. Exige entender que todas as pessoas são falhas e de que todas as pessoas podem ser incríveis.

E um profundo conhecimento de nossas próprias qualidades, funcionamento e defeitos e do contexto de nossas vidas.

O mundo humano não é justo.  Ao contrário, é marcado por uma história de violência e preconceitos, mas só quem pode mudar essa realidade, pasmem, é o mesmo ser humano.

Então há que se ter paciência e saber que ninguém está sozinho. No fim de tudo sempre há alguém para te estender a mão e te amar exatamente como você é (pelo menos essa é a minha esperança!).

terça-feira, 11 de junho de 2019

Caminhando sobre o céu...

Tenho uma amiga maravilhosa que me diz sempre: Cynthia, as portas do céu estão sempre abertas para nós. Entre por elas e caminhe querida, com um louvor em seus lábios.

Eu tento permanecer com esta imagem em minha mente. Ela é tão incrível. Foi quando eu vi esta foto do Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, na Cordilheira dos Andes, em Potosi, na Bolívia e me vi caminhando no céu.

Ah, definitivamente através desta imagem a gente pode tomar posse do já agora, ainda não. As portas do céu estão sempre abertas a gente é que não vê o óbvio: que Deus está dentro de nós é só uma questão de deixarmos as porteiras do amor e da esperança abertas. E assim, permitir que Ele guie nossas intenções e pensamentos para levar sua obra a bom termo.

Peregrino, o caminho a gente faz ao caminhar. E caminhando a gente ensina e aprende.

Estar sempre em movimento nessa terra é preciso. Confrontar aqueles que acreditam deter em si as tradições, a moralidade, o poder e a riqueza deste mundo é preciso.

E não importa ter medo. Porque temos medo. Mas importa saber que temos a vida eterna naquele cujo amor excede todo o entendimento. Que nele sobra vida e conhecimento. Então, apesar do medo, estaremos sempre um passo a frente.

Detentores de vida e de esperança que só tem aqueles que sabem que caminhar no céu é possível e que um dia nos veremos, nos encontraremos, pelo menos a todos aqueles que ousaram.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

As cartas não mentem jamais?

Ela jogou as cartas no pano verde.
Dez cartas ao todo. Dez cartas dispostas em círculo e fechadas.
Começou a abri-las uma por uma no sentindo anti-horário e falava com aquela voz suave, agradável e feminina tentando me seduzir enquanto fazia suas revelações.
Seus dedos longos e delicados passeavam pelas cartas e pude notar seus anéis e outros badulaques tão ao gosto das mulheres daquele estilo.
Vez ou outra ela levantava os olhos para mim e me dizia: - Hum... temos aqui uma dama de copas junto de um valete de espadas... e continuava falando ora em um tom monótono, ora em um tom mais animado, como se visse algo novo nas cartas para logo em seguida assumir uma longa pausa, como que completamente entediada com a leitura.
No final, deu um longo suspiro e me disse sismada:
- Querido, se você não sair logo dessa cidade, ela vai te engolir! Faça as malas e vá embora já daqui, este é o melhor conselho que posso lhe dar porque, enquanto você permanecer aqui, meu irmão parece que nada vai te acontecer. Até eu estou fazendo as malas e deu uma sonora gargalhada.
Além de me cobrar uma fortuna pelo ridículo conselho.

Mas que merda, aquilo eu já sabia. Sabia que ficar naquele fim de mundo não ia funcionar pra mim, mas o que fazer? Pra onde ir? Sem muita instrução, sem família, sem muitos sonhos...
Ir para uma cidade grande fazer o quê? Ganhar muito dinheiro (mas nem muitas ambições eu tinha!).
Talvez fosse melhor ficar aqui mesmo, neste fim de mundo, sem muitas expectativas.

Lá fora a carne branca e mole e saborosa tostava na grelha no fogo brando, estava mesmo deliciosa. Imagina aquela vagabunda me cobrar aquela fortuna pra me dizer o que há muito, eu já sabia.
A cabeça eu enterrei no lugar de sempre e bem fundo, o restante da carne, apurada e salgada, duraria por muito tempo. O churrasco daquela cigana idiota seria apreciado por mim por um bom tempo, mas isso ela não observou nas cartas. O que eu faria saindo daquele fim de mundo? Onde eu teria meus prazeres tão peculiares satisfeitos sem ser questionado por absolutamente ninguém?

Não, este é o lugar certo pra gente como eu, pelo menos por enquanto.