Texto inspirado nas músicas de Almir Sater
Sentada na poltrona de casa, neste domingo chuvoso e frio em pleno Rio de Janeiro, escuto "Um violeiro toca", de Almir Sater.
Este músico, compositor e cantor, dos poucos que ainda me tiram o chão, com sua voz suave e masculina, consegue me transportar para outra realidade, na fronteira entre o desperto e o sonhado.
Ouço os primeiros acordes e pronto, esqueço o café, a chuva e o frio. Viajo para muito longe... a música me leva pelos caminhos da memória, lembranças de um tempo passado e querido, do céu estrelado no "escurão da noite", sem as luzes da cidade ou o barulho característico das ruas cheias de gente e máquinas. Há somente a melodia e a voz doce que me guia pelo sertão, pelos diferentes aromas, perto do calor do fogo, mergulhada na noite onde não existe medo, apenas os sons dos bichos, a cantoria e a prosa e o chimarrão. Então, tudo é o momento; o teremos para sempre, mas nunca do mesmo jeito, por isso cada um é especial e único.
Escuto a toada e percebo como tudo é simples, afinal: "a viola, o violeiro e o amor se tocam", eu digo, a natureza é isso, toda ela participa deste ciclo encantador e assim seguimos a vida.
A vida como água serena que traz e leva tudo.
Há sempre a possibilidade de um recomeço, da alegria, mesmo que a gente não esqueça a dor. Por quê? Porque a dor faz parte. Como um rio, tudo segue seu caminho transformando a terra, traçando novos rumos. O amor "é um caso sério", mas nós temos a espera.
Todos esperamos.
Nos lançamos na vida diária e, secretamente, esperamos. É da nossa natureza, e em meio a estas muitas águas, como por um milagre, um singelo milagre de Deus estaremos, enfim, de mãos dadas pelos caminhos tendo outros olhos para nos emocionar na caminhada, mesmo em meio a este mundo torto.
Eu espero...
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