Fiquei assim parada na frente da tela enorme e florida que parecia me engolir pra uma realidade paralela, só depois de alguns minutos fui olhar o título e ops! Olhem só o nome da obra: While my eyes go looking for flying saucers in the sky...
E,
eu não acreditei. Imediatamente, o som suave de London, London invadiu a minha
cabeça e se ocupou dela: Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me / And people
hurry on so peacefully / A group approaches a policeman / He seems so pleased
to please them / But my eyes go looking for flying saucers in the sky / Yes, my
eyes go looking for flying saucers in the sky / While my eyes go looking for
flying saucers in the sky / Oh, my eyes go looking for flying saucers in the
sky.
Foi
como voltar no tempo, dos tempos em que eu despontava pra vida. Um tempo em que
eu podia olhar pro céu e me perguntar se veria objetos voadores não
identificados. Tempo em que as preocupações, com a dura realidade, ainda
pertenciam a minha mãe desesperada que trabalhava como uma louca, para que eu
frequentasse o melhor colégio – e eu nem ligava. Se ela soubesse que naquela
época eu só queria desaparecer, sumir dali.
Nossa,
pra onde aquele quadro tinha me levado afinal? Para uma Londres que eu nunca
conheci, para um exílio que eu vivi no meu país? Para um tempo de medo e
resistência, para um tempo de amor infantil e pueril, para a minha época mais
estranha e solitária?
Mas
sabe, não era para ser tão triste. Entretanto, foi e hoje é muito melhor.
Hoje
eu estou aqui e meus olhos não procuram por ninguém que me livre da realidade e
já não sou melancólica. Hoje eu vivo certeira, na certeza de eu sou linda
nesses meus muitos anos de construção, nesses tantos anos de estrada, nessa
minha aguerrida vontade de não desistir de mim.
Foi
bom parar por uns minutos e perceber o momento por trás daquele tempo congelado
ali, diante daquela tela florida e tal.
Foi
bom ver borbulhar tanta inquietação que me fez escrever, porque de alguma forma
o que eu escrevo me direciona para um propósito e, eu sei para onde devo
crescer.
-
A tela em questão é de Patrizia D’Angello, com a Exposição Jardim do Édem na
Galeria do Lago no Museu da República – Rua do Catete, 183 e que me suscitou
inúmeras sensações e reflexões, juntamente com o título que ela deu a obra,
como se pode observar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário