sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Entre Cordeiros e Lobos

Lucas 10: 3 - Ide; eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos.

Neste contexto, Jesus envia os discípulos pelo caminho, para que eles pudessem experimentar o que é seguir o Cristo, o que é Nele se espelhar.
Eles seguiram suas pegadas; se foram de par em par para ensinar, curar, amar, zelar por aqueles que necessitavam e combater as injustiças deste mundo.
Tarefas bem complexas, não? Foi lhes dado “poder” para tanto. Dizemos que o Senhor capacita os trabalhadores para a sua seara.
Os cordeiros tem seus nomes guardados, e os lobos?
Alguém já parou para pensar o que significa ser um cordeiro em meio aos lobos? Alguém já se perguntou como e por que os discípulos foram, sem temor, por onde Jesus os enviou?
Apenas um versículo suscita tantas e tão importantes perguntas.
Somos cordeiros ou lobos?

No espelho meus olhos são cordeiros, mas muito de lobo resta em mim...
Nos meus olhos de espelho seus olhos são dois lobos, embora você deva ter muito de cordeiro... quem sabe?
Eu não sei, apenas leio nas entrelinhas ou nas linhas descaradas dos seus versos, as dores, mordidas de caninos que eu dispenso. Eu disse e repito, não quero as dores que me são impingidas, já tenho minha história. No céu eu deixo os balões coloridos das ilusões insensatas e abraço os sonhos de amor e as perspectivas de uma trajetória comum de entrega...
Eu sei o que eu quero! Vou como cordeiro em meio aos lobos porque sei a quem sirvo. Vou como cordeiro mesmo sabendo que não sou e nem posso ser perfeita. Vou como cordeiro porque sei que internamente, transformações se processam continuamente...
Não passo cheques em branco ou entrego minha vida nas mãos de outros.
Minhas palavras são minhas e cada uma delas eu peso e penso, faço escolhas todos os dias, e a cada dia escolho ser feliz.
Um dia alguém me disse que meu silêncio era como uma bofetada.
Meu silêncio é apenas uma pausa, um ponto de reflexão, eu nunca quis agredir com o meu calar. Na verdade, acho que justo ao contrário, para não agredir eu calo. E como já disse em outros textos meus, rumino idéias, as faço voar sobre a minha cabeça e vou coletando palavras para expressar o que sinto.
Desejo ser verdadeira, sem me incomodar com as suas mentiras.
Assim sigo o sol nos dias de luz e a lua, nas noites em que conto meus amores... imaginando a dor de quem a si mesmo se chama de “cafajeste”.

PS: Verbete, cafajeste – pessoa a quem não se presta importância; indivíduo sem nobreza de sentimentos, com má-formação de caráter, em quem não se pode confiar, velhaco e por aí vai (Dicionário HOUAISS, 2004, p.558).




*****O Senhor cuida de seus cordeiros e os ama, os fortalece e os coloca em meio aos lobos para que estes saibam da Glória do Cordeiro de Deus.

domingo, 12 de outubro de 2008

Vestígios de mim

Eu sou clara como água cristalina.
Sou turva como água barrenta que se avoluma em dias de muita chuva.
Clara&turva, como saber quem eu sou?
O caminho que faço ao caminhar deixa vestígios de mim. Você deseja saber quem eu sou?
Atenção... preste atenção aos meus detalhes: a roupa que deixo pela casa quando chego do trabalho, o banho demorado, os meus pequenos prazeres, aos meus restos de comida, ao brilho dos meus olhos, ao som que eu escuto, a minha janela que se abre aos verdes e azuis de cada dia, atenção ao que eu escondo todos os dias!
Você deseja mesmo saber quem sou?
Procure meus sinais, os meus rastros em minha poesia.
Ali, para lá do que eu sou está transcrito... um conjunto de ME-TA-FO-RAS, mais que tudo – BÚSSOLA DE MIM apontando meus múltiplos destinos, minhas crenças, meus princípios, meu corpo que arde, minha boca que pede sempre um doce fruto.
Costumo dançar nos telhados e adoro os ventos, sou uma força da NATUREZA.
Mas tenho cá meus defeitos, costumo sonhar com alguém que tente saber quem eu sou através do meu coração. E, quem lê corações ? Fernando Pessoa mesmo diz que o poeta é um fingidor! permitam-me, humildemente, discordar pois, vejo poemas e versos como diálogos internos ou mesmo como diálogos com o mundo, com o outro.
Bússola de mim é minha poesia, volto a afirmar... neste conjunto de versos, rimas, palavras, disritmias pode-se ver a picada que abri em meio a toda esta selva de escolhas.
Dentro de mim um canto para cada coisa: uma lua, um sol, um mar e muito mais, um eu, um você, um nós.
Quando estou triste – canto.
Quando estou alegre – mergulho nas águas do mar sem fazer questão de voltar.
Quem eu sou? Não é fácil saber. É mesmo difícil conhecer alguém. Quando amamos aí sim tentamos. Se amarmos muito, consideramos a possibilidade de sermos diferentes e melhores, simplesmente, porque o amor nos preenche de tal forma, que modifica tudo.
Desta forma posso concluir que é preci-necessário (expressão dos Novos Baianos), AMAR – para se ter coragem de juntar vestígios e pedir a Deus para ser capaz de ler este pergaminho, este enorme livro que é cada um de nós.

(*) Inspirado na música "Rastros" de Delayne Brasil e Laura Esteves.