sábado, 25 de julho de 2009

Ô prosa domingueira!

Texto inspirado nas músicas de Almir Sater


Sentada na poltrona de casa, neste domingo chuvoso e frio em pleno Rio de Janeiro, escuto "Um violeiro toca", de Almir Sater.
Este músico, compositor e cantor, dos poucos que ainda me tiram o chão, com sua voz suave e masculina, consegue me transportar para outra realidade, na fronteira entre o desperto e o sonhado.
Ouço os primeiros acordes e pronto, esqueço o café, a chuva e o frio. Viajo para muito longe... a música me leva pelos caminhos da memória, lembranças de um tempo passado e querido, do céu estrelado no "escurão da noite", sem as luzes da cidade ou o barulho característico das ruas cheias de gente e máquinas. Há somente a melodia e a voz doce que me guia pelo sertão, pelos diferentes aromas, perto do calor do fogo, mergulhada na noite onde não existe medo, apenas os sons dos bichos, a cantoria e a prosa e o chimarrão. Então, tudo é o momento; o teremos para sempre, mas nunca do mesmo jeito, por isso cada um é especial e único.
Escuto a toada e percebo como tudo é simples, afinal: "a viola, o violeiro e o amor se tocam", eu digo, a natureza é isso, toda ela participa deste ciclo encantador e assim seguimos a vida.
A vida como água serena que traz e leva tudo.
Há sempre a possibilidade de um recomeço, da alegria, mesmo que a gente não esqueça a dor. Por quê? Porque a dor faz parte. Como um rio, tudo segue seu caminho transformando a terra, traçando novos rumos. O amor "é um caso sério", mas nós temos a espera.
Todos esperamos.
Nos lançamos na vida diária e, secretamente, esperamos. É da nossa natureza, e em meio a estas muitas águas, como por um milagre, um singelo milagre de Deus estaremos, enfim, de mãos dadas pelos caminhos tendo outros olhos para nos emocionar na caminhada, mesmo em meio a este mundo torto.

Eu espero...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O mito da caverna


Todos conhecem o mito da caverna? É aquele criado por Platão, aquele mesmo... é isto, assim me sintia - uma caverna.
Entretanto, achei imagens tão lindas de cavernas que fiquei claramente maravilhada!
E, depois, homens e mulheres desenharam nas paredes de cavernas suas experiências, suas vidas, suas curas, os milagres que compartilharam e tantas outras coisas.
Isto me fez entender que não dá mesmo, nem a gente se sentindo uma caverna, para ficar por fora do mundo.
A beleza e a história estão gravadas nas cavernas da mesma forma que na superfície da terra. Então me virei pelo avesso e percebi que estava em casa.
Nada disso parece ter muito sentido para você? Você nunca teve vontade de escrever o que lhe viesse a cabeça, mesmo não fazendo muito sentido, pelo menos a princípio?
- (...)
Bom, eu preciso escrever para botar meu coração em ordem, meus sentidos alertas, minha mente esperta, minhas mãos seguras.
Eu tenho um rosto, um corpo, uma concretude; quero abraçar meu amor e sentir no meu peito a batucada louca do carnaval de Olinda!
- (...)
Você não entendeu, foi muito rápido? Vou explicar, tem um tempo que eu luto para ficar no meu canto, nesta caverna, meu lugar seguro, sem me arriscar muito, eu não queria conhecer ninguém e amar e doer como também, (quem sabe?) ser feliz. Porém hoje meu lábios se abriram em um sorriso e em minha boca coloquei um batom vermelho. Meus olhos despertaram acesos, e minhas mãos cheias de poesia, versos e palavras que eu jogo pelo ar... estou mais próxima do meu amor... Quero que o meu amor possa sentir, através da brisa, a minha voz suave a lhe dizer tudo que eu sinto e como é bom sentir.
Estou mais perto do meu amor... e quanto mais junto dele penso estar, mais alegre quero ficar, mais menina, mais viva, mais minha.
É a delícia das delícias... poder saborear cada minuto... o meu amor está próximo... que os anjos de Deus digam amém, se assim for!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Repouso de Helena (Detalhe) - Escultura de Ricardo Kersting


















UMA VISÃO PARTICULAR

Voltei com uma escultura de Ricardo Kersting.
Por quê? Creio que porque estou com meu feminino
a flor da pele e, esta Helena que repousa seus
sentidos como se emergisse do mar, das águas
tranquilas, parece expor exatamente isto: sua face
mais doce. Não digo com isso que o masculino não
possa ser gentil, meigo, só que culturalmente ao
homem é impingida uma força e uma violência que
de fato, se torna mais uma carga pesada e dolorosa,
do que uma marca do gênero.
Ao trazer à tona a face de Helena, ela surge ainda
nublada, seus traços ainda não são totalmente visíveis
e perfeitos, eis então uma visão suave e perfectível,
pronta para despertar e dar a mão à vida.
Ela fala em seu repouso, justamente porque está prestes
a realizar um movimento, a se levantar e sair da pedra
e caminhar - percebendo que seus próprios pés é que fazem
o caminho.