quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Carta ao meu amor


meu querido amor,


hoje acordei com música.


claro que vim correndo lhe escrever, porque não passaremos o réveillon juntos, porque em nosso último encontro só falamos das nossas diferenças, porque não estou aguentando esta ansiedade de te saber longe de mim.


(gente eu reencontrei este meu antigo amor em um show de rock da Pity! depois de tanto tempo, ainda guardava em mim o gosto do seu beijo, o jeito da sua língua na minha boca, hum... foi fácil viver tudo novamente. quem pode resistir, ao que nunca tem fim? ao que nunca acabou apesar das diferenças, dos cabelos brancos dele e da sua raivosa verve de esquerda? das suas roupas fora de estação, típico de quem não liga para este mundo consumista?)


o que eu quero te dizer amor, é que foi legal vc cortar o cabelo junto comigo e fazer umas compras pra mudar um pouco o visual, bem como, foi lindo prestar atenção no seu discurso, na sua poesia, em todas as novidades que vc me trouxe por conta de tudo que a vida te ensinou nestes anos todos em que estivemos em outras paragens, vivendo com outras gentes, nestes mundos paralelos.


portanto, prestemos mais atenção nestes detalhes, nas nossas doações cotidianas ao amor. não estamos vivendo o mesmo. tudo é completamente diferente, apesar da similaridade dos cheiros, do gosto da pele, dos ais, do cais, das noites abertas as muitas possibilidades e descobertas, dos dias plenos de outros.


os erros que cometemos, ficaram num outro tempo, que não é o nosso de agora, nem nós somos os mesmos! portanto, estejamos atentos, mas não paranóicos.


as diferenças meu querido estão para serem apreciadas, amadas, bebidas, bem como as semelhanças. ponha-nas em uma taça, sorva tudo, intensamente. porque temos algo em comum: jamais deixamos de viver o que nos propomos. vivemos nosso amor de crianças, vivamos agora nosso amor de adultos. por quê? porque vc ficou em mim como perfume gostoso e eu fiquei em ti como este mesmo antigo e precioso cheiro... a despeito dos outros todos que passaram por nossas vidas e isso deve ter um significado. com certeza tem um significado para além do nosso senso comum, do nosso dia a dia, até para além da poesia.


foi assim nosso reencontro: inusitado, bizarro, mas encontro. como se o amor nunca tivesse podido ser esquecido, mesmo sendo guardado num canto, mesmo cultivada as mágoas, mesmo com nossos mesquinhos rancores. no momento em que nos tocamos nada disso mais fazia sentido e no mundo inteiro só nós existíamos e éramos novamente amantes.


vc não estará comigo aqui? ah, estará sim! grudado na minha alma como um destino estranho e incompreensível, mas quem de nós precisa entender? precisamos apenas sentir e eu dou graças a Deus por isso!


t amo




terça-feira, 9 de novembro de 2010

Certas coisas na vida...


A vida, por vezes, nos prega cada peça...
Estou agora numa fase em que estou reencontrando, revendo, amigos de muito tempo.
Sério, gente que eu estava doida para achar ou pessoas que a vida fez com que, novamente, atravessassem o meu caminho.
Por acaso, sempre por acaso, nunca por acaso!
Inclusive, antigos amores. Diante de tantas redescobertas, parei diante destes versos da música do Kid Abelha - Nada sei, que escutei no rádio antes de vir trabalhar:

Nada sei desse mar
Nado sem saber
De seus peixes, suas perdas
De seu não respirar...

Nesse mar, os segundos
Insistem em naufragar
Esse mar me seduz
Mas é só prá me afogar...

Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto o tempo me deixar
Errando
Enquanto o tempo me deixar...

Nossa, foi como voltar no tempo, para me lembrar dele: do meu primeiro e único amor.
(a distância tem destas coisas, faz a gente lembrar só de que é bom, principalmente, quando não se tem ninguém interessante em vista)
Na verdade, não é nada tão dramático assim, é só amor (e, é claro, a idade contribui muito para este tipo de recordação!), o fato de ser amor por si só não deveria ser complicado, entretanto, hoje, falar de amor pode bem ser considerado uma heresia.
Mas eu amei, se fui amada, eu nem sei e importa? Talvez, na época. Hoje, não mais. Hoje importa ter amado tanto.
Fui tonta, tive vertigens, tive ciúmes, quase morri com toda aquela intensidade.
Fui boba, fui "Maria", fui "Amélia", fui "Gilda", fui eu mesma.
Fui garota, menina, mulher, esposa.
Fui traída e adoeci.
Dei a cara a tapa e me dei mal, mas renasci, RECRIEI e hoje estou aqui, inteiraça!
Procurei por ele na parafernália da internet e o encontrei. O mesmo olhar, o mesmo sorriso... pensei até em salvar a fotografia, mas desisti. Fechei a telinha e fui trabalhar, afinal, eu ganho é para isto.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ojalá

Engraçado o que a música pode produzir em nossa alma.
Esta em especial, que escuto e escuto repetidas vezes é a música de Silvio Rodriguez. E quanto mais a escuto, mais a minha alma se eleva em um misto de sentimentos, mas principalmente, se enche de espírito, de amor... isso, de visões de amor. Algo que fuja das lágrimas, pelo menos das lágrimas solitárias... se temos que chorar, que o façamos juntos; que amemos na mesma intensidade, que nossos corpos sintam o mesmo tremor e o mesmo prazer ao se tocarem, ou apenas no encontro de nossos olhos que por mais que teimem, não conseguem se desvencilhar um do outro e que seja assim para sempre (ou que seja esta nossa ilusão mais sentida). Mas que seja! Algo que se possa tocar, que tenha peso e massa. E não a solidão de duas pessoas... só isso é muito pouco.
Será que alguém pode compreender esta dor? A dor de ser poeta? A dor de um grito, a milênios sufocado pela pressa deste novo mundo?
Eu não tenho medo destes sentimentos e dos meus sentidos, por quê você os tem?
Por quê?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A cidade e o Seu Caos

Bom, não sou jornalista. Então não esperem de mim jornalismo, eu dou pitaco e opinião porque vivencio os fatos.

Na segunda-feira começou no Rio de Janeiro um verdadeiro martírio. Uma chuva forte e interminável que em menos de meia hora já tinha enchido o bairro de Botafogo, onde eu me encontrava. Óbvio, fiquei ilhada.

Não só eu como uma penca de pessoas que, desprevenidas, se apertavam nas marquises dos prédios buscando, inutilmente, um táxi ou um ônibus, para que pudessem sair daquela situação desesperadora.

Todo mundo encolhido e a água subindo ameaçadora.

No meio disso tudo encontro uma amiga, também como eu, aparvalhada.

Um cara na nossa frente fez sinal para um taxi e conversou com o motorista, mas o taxi saiu vazio e só ouvi o cara dizer: - Vai para Copacabana!

Parei o taxi, e fomos eu e minha amiga para Copa. Com o coração na mão, conseguimos atravessar a Real Grandeza e seguir para Copacabana ainda sem grandes bolsões de água.

Chegamos em casa, ligando a tv e rádio para ver o que se passava, mas foi no twitter que conseguimos a maioria das informações (recomendo: twet LeiSecaRJ).

Bom minha amiga resolveu ir para casa e aproveitou um momento de estiagem para partir e eu, fiquei lá ouvindo as barbaridades que estavam acontecendo pela cidade.

Pela manhã a chuva continuava no mesmo pique do dia anterior, forte e paralisante.

Ai começaram os absurdos, o Prefeito e o Governador sugerem que todos fiquem em casa e tudo vira feriado estadual. Os tais planos de emergência contra as chuvas (comuns nesta época do ano), viram pó soprado pelo vento e pelo frio e pela realidade da cidade exposta, nua e crua.

As declarações são as mais disparatadas, uns culpam a chuva, outros o lixo, outros ainda as pessoas pobres e ignorantes, as favelas e por aí vai.

As construções do PAC, se transformam em cubos de apartamentos em meio a uma piscina de água, lama e infiltrações por todo o lado, mais grana desperdiçada.

Foto de 1998 - Rio de Janeiro

Esse problema tão antigo quanto a cidade do Rio de Janeiro se repete a décadas, é fruto da metrópole caótica que se desenvolve sem planejamento urbano, mas acho que ninguém sabe o que vem a ser PLANEJAMENTO neste país.

A culpa é do bando de pobres que ocuparam as encostas, eles desmataram, construíram suas casas na beira de abismos, apinhadas uma em cima das outras, jogam lixo em qualquer lugar; é tem gente falando besteira demais por aí, eu gostaria que alguém sério, fizesse um trabalho de pesquisa sério, sobre a GEOPOLÍTICA DAS FAVELAS, eu creio que muita coisa interessante se descobriria com um estudo deste tipo. Por que razão se permitiu o surgimento das favelas neste país? Quem ganhou com isso?

Outro tema interessante é a EDUCAÇÃO, mas não se pode falar em educação sem se falar em saúde, alimentação e, voltando em moradia.

Eu gostaria aqui de rechaçar a visão estreita que culpa a população, principalmente a população de baixa-renda e chamar os governantes deste país a voltar ao banco das escolas para aprenderem noções básicas de planejamento e cidadania.



sexta-feira, 26 de março de 2010

ROUPA SUJA


Em matéria do jornal O Globo de ontem, 25/03/2010, o cardeal português, José Saraiva Martins, um dos principais assessores do Papa Bento XVI, responde assim as acusações sobre a atitude permissiva do clero católico com relação a ação dos pedófilos na igreja: "Não deveríamos estar muito escandalizados, se alguns bispos sabiam dos casos, mas mantiveram segredo. É isso que acontece em qualquer família, não se lava roupa suja em público."
O que está em negrito, eu quis mesmo sublinhar. O que isto significa? Nossos filhos e filhas são roupa suja?
Gostaria muito de ouvir a opinião dos leitores dos meus blogs porque, eu confesso, fiquei indignada.

sábado, 6 de março de 2010

E por falar em mulheres...


Bom, segunda-feira é dia 8 de março, dia Internacional de Luta das Mulheres.

É, luta sim. A história do dia 8 não é brincadeira, em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica reivindicando melhores condições de trabalho, isto é, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho, inclusive com relação ao assédio sexual.
A manifestação foi reprimida com violência: as mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada, aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.
Assim, no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Depois desta introdução ao tema devo dizer que, como mulher, dei minha contribuição a esta batalha. Eu mesma oprimida desde a infância por ser gordinha! Eu vivi o período da ditadura, na pele da minha família, porque mesmo ainda criança, eu sentia todos os climas. E veio a Anistia, a Greve Geral, os sindicatos, a CUT, antes disso a formação do PT e, fechando o período, as Diretas Já. A organização política, um casamento (primeira paixão, primeiro desastre), e por aí vai. Tudo isso trabalhando e estudando, ufa! E hoje continua tudo igual, o mesmo trabalhão.

Agora, amadurecida eu posso ser POETA, posso ser uma mulher doce e terna, mas cheia de opinião. Esta que tem um monte de sonhos, e está sempre pronta para dobrar uma esquina e encontrar outro olhar.

Sempre pronta para amar, romântica como pimenta.

Yes...

E para todas as mulheres: Feliz dia 08 de março, mulherada!!!!!!!!!!!!!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

É carnaval...

portanto, aí temos um bom exemplo da qualidade das antigas marchinhas de carnaval. Dá saudade mesmo, de um carnaval que não volta mais.
Dos grandes compositores Noel Rosa e Braguinha: As Pastorinhas

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ato obsceno

Hoje saí de casa, invariavelmente atrasada.

Ainda bem que o vestido já estava passado, sapato escolhido e
bolsas organizadas. Foi só tomar um bom banho frio e logo em
seguida voltar a suar no calor de 40º que já fazia às 08:30 h ( e
estamos em horário de verão!). Eu como o pão me vestindo, enquanto a água pro cafezinho esquenta no fogão.

Caramba, ando mesmo bagunceira.

Tudo pronto, tirar os aparelhos das tomadas, tomar café, e desligar o gás. Ah, botar o lixo pra fora. Esqueci o batom. Tudo bem, depois eu ponho. Esqueci o perfume. Nem pensar. Da porta eu volto, sem perfume eu não saio de casa.

Tudo pronto, fechar a porta e partir para o novo dia.

Quando chego na portaria do prédio e abro a porta... lá estão eles: os pares de olhos castanhos mais cristalinos e lindos que eu já vi. E olhavam para mim como se fosse amor a primeira vista, aqueles olhos tão meigos e cheios de carinho.

Foi impactante! Saí às gargalhadas dali. Minha alma gêmea, um imenso rottweiler que olhava para mim com seus olhos bovinos, digo caninos, enquanto fazia chichi no gelo baiano colocado estrategicamente em frente ao portão do meu prédio, vai saber por quem.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Haiti - as coisas que muitas vezes não vemos

Haiti: estamos abandonados", texto do pesquisador da Unicamp Otávio Calegari Jorge, no Haiti

A noite de ontem (dia 12) foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.

O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.

O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?

A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.

Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.

A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.

A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.

Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.

Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.

Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.



publicado no dia 13 de janeiro em

http://lacitadelle.wordpress.com/2010/01/13/haiti-estamos-abandonados/

Postado por Victor Paes às 15:42

domingo, 17 de janeiro de 2010

IMÃ (composição de Ednardo)

Rasgando um buraco no azul
Tu afloras feito o arco-íris
Com um pé pisando no tempo e o outro no espaço
E molha a sequidão do meu rosto de pedra
Na água cristalina
Em nosso rastro ferido arde
O Brasil e a nossa sina
Nada te dou como herança
Nada quero
A vida é uma pessoa sem medo no caminho

Estrela de cinco pontas luminando noites
Do universo do chão ardendo luminando noites
Habitamos o verbo chamado homem luminando noites
Cumprindo o destino do ser
A raiz afunda na terra
E bebe os segredos da areia
Espalhando em cada folha
Uma canção ao vento leve

Leve é aquilo que brota
Muito além do medo
Serena é a coragem de tudo aquilo que é
Que é quem sempre caminha
E nunca pensa que tarda
Sua flecha certeira
Sempre crava na luz
E sempre amanhece


Leve é aquilo que brota muito além do medo. É o medo, que escorre por nossas mãos sempre que tentamos responder perguntas bem simples ou mesmo, quando tentamos dar uma resposta a este mundo sem aparas, vago e que flutua no espaço, no vazio da mão do Senhor.
O medo é o que vemos nas pessoas atônitas diante de inesperadas catástrofes naturais.
Caminhos que percorremos a sós.
Não temos herança, pelo menos não a herança de nossos países.
Neles o que nos vale é a solidariedade e a compaixão que possamos ter uns pelos outros, nada mais.
Não há esperança de políticas públicas realmente eficazes que garantam a saúde mental e física de seus cidadãos, eu falo de educação, de moradia, de alimentação, de condições de higiene e saúde pública, além de informação de qualidade.
As cidades são construções inesperadas e verticais, totalmente fora de contato com sua população, a maioria delas não passam de conjuntos desumanos de concreto.
Como bem diz Ednardo(grato compositor cearense):
"Em nosso rastro ferido arde
O Brasil e a nossa sina
Nada te dou como herança
Nada quero
A vida é uma pessoa sem medo no caminho"

Somos então vestígios, traços, rastros e sina?
Seguimos cheios de sede e fome, frente a este céu azul, que se abre a nossa frente. Nos emprumamos e vamos adiante, mesmo que ninguém nos queira ouvir.
Eu não vou desistir, nem os haitianos, nem os que perderam famílias nas enchentes no Brasil e assim por diante...
Somos muito mais que um povo de uma terra demarcada: somos os que caminham, os que não tardam com sua flecha certeira e que acreditam que sempre amanhece.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A poética das cores ou os primeiros acordes de um novo ano




Tenho um móbile em meu quarto que pela manhã, aos primeiros raios de sol,
refrata e decompõe a luz em cores que inundam as paredes, os móveis e o meu corpo.
Lá fora a mata verde desperta, o azul do céu floresce e o som dos passarinhos
finalmente, me desperta. O que há para dizer?
Existem palavras que possam descrever todo este amor? Esta paixão de ser?
Vá saber, eu tento.
A brisa fresca provoca arrepios deliciosos... saio da cama
como estou, caminho despertando cada canto do apartamento.
Como é bom viver! Doce e suave pode ser.
Fecho meus olhos e aproveito o instante, este enleio, para me imaginar em seus sonhos.
Vejo as cores fortes com as quais você pinta o seu universo interno,
sinto o material onírico se desfazer em cores suaves com a minha presença, me vejo
chegar devagar - pinto um sol, uma lua e no fundo luzes se misturam.
Venho para você, só para você e seus olhos de mar.
Chego nua e intensa, febril e inexata, com medo, mas voraz. Caminho até você que observa meu ballet, minha dança, já aflito, ardido, banhado de suor.
Neste momento não negamos o amor, apenas somos o amor, consumamos o amor
calmamente, como se tivéssemos todo tempo do mundo, como senhores da vida
que é nossa. Ah, o querer sem avessos e conflitos, o amor que se desfaz
nesta poética de cores com as quais pintamos nosso prazer!
Tenhamos prazer, testemos nossas fantasias misturadas com o mundo surreal dos
nossos sonhos. Junte seus lábios aos meus com loucura e tesão, grude seu corpo ao meu
através de nossos fluídos e suores, quero sentir seus pelos eriçados e o suspiro delicado,
o seu peso e o seu cansaço. Quero mergulhar no verde do seu mar e me deixar naufragar,
tranqüila, vendo as cores de cada manhã renovadas no viver de cada dia.