quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Carta de um amigo


Cynthia,obrigado pelo envio das imagens do nosso Rio antigo.



Dele sou dono de poucas coisas materiais, um ralo,talvez.Quem sabe de um meio-fio,pedaço de uma grade que hoje cercam as praças, de uma pedra portuguesa que se deslocou do piso,de uma tampa antiga de calçada e fragmentos de borracha que os veículos soltam nas suas freiadas.Coisas poucas.



No entanto, de muitas imateriliadades eu tenho certeza possuir e começo pelo sol generoso,as noites de luas, qualquer delas, o vento mormo das tardes quentes de verão,essas montanhas, florestas,praias longas sem fim do leme ao pontal e por ai vão,banhando corpos que são todos meus, nas minhas fantasias, sendo mulher: é minha!



Afinal, eu sou pobre, mas não sou burro!



E de tantas outras coisas que eu queria Cynthia, materias que não tenho, nem me importo,desde que não me subtraiam o Cristo Redentor, Pão de açucar, enfim...



Mas bate em mim uma vagotonia,coisas dos antigos, hoje reformatada para angustia,depressão e o que se sabe mais, quando penso na minha incompletude de sentimentos e grandes prazeres, como os de nunca ter sentido o aroma no ar da sua passagem,da compassada batida inaudível do seu coração por nossas ruas e praças, de um sorriso seu perdido em algum lugar, nem sei onde, mas sei que poderia tê-lo achado.



Não achei!



E nestes ares do Rio de Janeiro que não consegui respirar, ai sim o passado me cobra uma fatura com juros extorsivos.



Vou então para a beira do mar, sentir o cheiro de maresia,única maneira que encontro de respirar você.



É como se dizia: O importante é que a nossa emoção sobreviva!



Abração carioca.



PS .Estou lhe mandando a música para que você saiba que esta emoção já não foi cantada.

http://www.youtube.com/watch?v=ri8R8_IiICg&featurehttp://www.youtube.com/watch?v=x0bwaaCzjOU=related


Nota: Quem me escreve este delicioso email é Paulo Tamburro, meu querido amigo virtual e carioca, que manda muito bem no blog: http://paulotamburro.blogspot.com/.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Asas














Voltei a ter asas. A intenção é voar, voar, por sobre as águas calmas do mar, ser uma com os ventos.

Quando voo, as asas cantam...

Pairei sobre as palavras: umas machucam outras fazem cócegas e há ainda aquelas que me tiram o ar!

- Eu falo demais, eu sei...

mas se eu não falo, como saber o que sinto? como entender o que sonho?

Longas distâncias percorri; o tempo e o espaço se uniram por mim, sou uma louca inspiração!

O poema surge desta minha necessidade febril de viver.

O poema surge desta minha necessidade apaixonada de tocar o outro.

O poema surge do desejo de ser.

Os arranha-céus, nem chegam perto do céu. Apenas atrapalham um tanto o nosso voo.

As aves se espantam com a minha liberdade.

Eu confesso: dou asas as minhas fantasias todas!

Minhas asas? Não as peguei emprestadas de ninguém. Elas foram sendo tatuadas em meu corpo como um presente, depois de tão longa caminhada.

Nesta noite, meu anjo, teu sopro divino fez brotar, em meus olhos, toda a água da vida.


*Imagem: pintura de Fidel Garcia.