sábado, 13 de fevereiro de 2010

É carnaval...

portanto, aí temos um bom exemplo da qualidade das antigas marchinhas de carnaval. Dá saudade mesmo, de um carnaval que não volta mais.
Dos grandes compositores Noel Rosa e Braguinha: As Pastorinhas

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ato obsceno

Hoje saí de casa, invariavelmente atrasada.

Ainda bem que o vestido já estava passado, sapato escolhido e
bolsas organizadas. Foi só tomar um bom banho frio e logo em
seguida voltar a suar no calor de 40º que já fazia às 08:30 h ( e
estamos em horário de verão!). Eu como o pão me vestindo, enquanto a água pro cafezinho esquenta no fogão.

Caramba, ando mesmo bagunceira.

Tudo pronto, tirar os aparelhos das tomadas, tomar café, e desligar o gás. Ah, botar o lixo pra fora. Esqueci o batom. Tudo bem, depois eu ponho. Esqueci o perfume. Nem pensar. Da porta eu volto, sem perfume eu não saio de casa.

Tudo pronto, fechar a porta e partir para o novo dia.

Quando chego na portaria do prédio e abro a porta... lá estão eles: os pares de olhos castanhos mais cristalinos e lindos que eu já vi. E olhavam para mim como se fosse amor a primeira vista, aqueles olhos tão meigos e cheios de carinho.

Foi impactante! Saí às gargalhadas dali. Minha alma gêmea, um imenso rottweiler que olhava para mim com seus olhos bovinos, digo caninos, enquanto fazia chichi no gelo baiano colocado estrategicamente em frente ao portão do meu prédio, vai saber por quem.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Haiti - as coisas que muitas vezes não vemos

Haiti: estamos abandonados", texto do pesquisador da Unicamp Otávio Calegari Jorge, no Haiti

A noite de ontem (dia 12) foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.

O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.

O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?

A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.

Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.

A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.

A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.

Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.

Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.

Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.



publicado no dia 13 de janeiro em

http://lacitadelle.wordpress.com/2010/01/13/haiti-estamos-abandonados/

Postado por Victor Paes às 15:42