domingo, 17 de janeiro de 2010

IMÃ (composição de Ednardo)

Rasgando um buraco no azul
Tu afloras feito o arco-íris
Com um pé pisando no tempo e o outro no espaço
E molha a sequidão do meu rosto de pedra
Na água cristalina
Em nosso rastro ferido arde
O Brasil e a nossa sina
Nada te dou como herança
Nada quero
A vida é uma pessoa sem medo no caminho

Estrela de cinco pontas luminando noites
Do universo do chão ardendo luminando noites
Habitamos o verbo chamado homem luminando noites
Cumprindo o destino do ser
A raiz afunda na terra
E bebe os segredos da areia
Espalhando em cada folha
Uma canção ao vento leve

Leve é aquilo que brota
Muito além do medo
Serena é a coragem de tudo aquilo que é
Que é quem sempre caminha
E nunca pensa que tarda
Sua flecha certeira
Sempre crava na luz
E sempre amanhece


Leve é aquilo que brota muito além do medo. É o medo, que escorre por nossas mãos sempre que tentamos responder perguntas bem simples ou mesmo, quando tentamos dar uma resposta a este mundo sem aparas, vago e que flutua no espaço, no vazio da mão do Senhor.
O medo é o que vemos nas pessoas atônitas diante de inesperadas catástrofes naturais.
Caminhos que percorremos a sós.
Não temos herança, pelo menos não a herança de nossos países.
Neles o que nos vale é a solidariedade e a compaixão que possamos ter uns pelos outros, nada mais.
Não há esperança de políticas públicas realmente eficazes que garantam a saúde mental e física de seus cidadãos, eu falo de educação, de moradia, de alimentação, de condições de higiene e saúde pública, além de informação de qualidade.
As cidades são construções inesperadas e verticais, totalmente fora de contato com sua população, a maioria delas não passam de conjuntos desumanos de concreto.
Como bem diz Ednardo(grato compositor cearense):
"Em nosso rastro ferido arde
O Brasil e a nossa sina
Nada te dou como herança
Nada quero
A vida é uma pessoa sem medo no caminho"

Somos então vestígios, traços, rastros e sina?
Seguimos cheios de sede e fome, frente a este céu azul, que se abre a nossa frente. Nos emprumamos e vamos adiante, mesmo que ninguém nos queira ouvir.
Eu não vou desistir, nem os haitianos, nem os que perderam famílias nas enchentes no Brasil e assim por diante...
Somos muito mais que um povo de uma terra demarcada: somos os que caminham, os que não tardam com sua flecha certeira e que acreditam que sempre amanhece.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A poética das cores ou os primeiros acordes de um novo ano




Tenho um móbile em meu quarto que pela manhã, aos primeiros raios de sol,
refrata e decompõe a luz em cores que inundam as paredes, os móveis e o meu corpo.
Lá fora a mata verde desperta, o azul do céu floresce e o som dos passarinhos
finalmente, me desperta. O que há para dizer?
Existem palavras que possam descrever todo este amor? Esta paixão de ser?
Vá saber, eu tento.
A brisa fresca provoca arrepios deliciosos... saio da cama
como estou, caminho despertando cada canto do apartamento.
Como é bom viver! Doce e suave pode ser.
Fecho meus olhos e aproveito o instante, este enleio, para me imaginar em seus sonhos.
Vejo as cores fortes com as quais você pinta o seu universo interno,
sinto o material onírico se desfazer em cores suaves com a minha presença, me vejo
chegar devagar - pinto um sol, uma lua e no fundo luzes se misturam.
Venho para você, só para você e seus olhos de mar.
Chego nua e intensa, febril e inexata, com medo, mas voraz. Caminho até você que observa meu ballet, minha dança, já aflito, ardido, banhado de suor.
Neste momento não negamos o amor, apenas somos o amor, consumamos o amor
calmamente, como se tivéssemos todo tempo do mundo, como senhores da vida
que é nossa. Ah, o querer sem avessos e conflitos, o amor que se desfaz
nesta poética de cores com as quais pintamos nosso prazer!
Tenhamos prazer, testemos nossas fantasias misturadas com o mundo surreal dos
nossos sonhos. Junte seus lábios aos meus com loucura e tesão, grude seu corpo ao meu
através de nossos fluídos e suores, quero sentir seus pelos eriçados e o suspiro delicado,
o seu peso e o seu cansaço. Quero mergulhar no verde do seu mar e me deixar naufragar,
tranqüila, vendo as cores de cada manhã renovadas no viver de cada dia.