quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Asas














Voltei a ter asas. A intenção é voar, voar, por sobre as águas calmas do mar, ser uma com os ventos.

Quando voo, as asas cantam...

Pairei sobre as palavras: umas machucam outras fazem cócegas e há ainda aquelas que me tiram o ar!

- Eu falo demais, eu sei...

mas se eu não falo, como saber o que sinto? como entender o que sonho?

Longas distâncias percorri; o tempo e o espaço se uniram por mim, sou uma louca inspiração!

O poema surge desta minha necessidade febril de viver.

O poema surge desta minha necessidade apaixonada de tocar o outro.

O poema surge do desejo de ser.

Os arranha-céus, nem chegam perto do céu. Apenas atrapalham um tanto o nosso voo.

As aves se espantam com a minha liberdade.

Eu confesso: dou asas as minhas fantasias todas!

Minhas asas? Não as peguei emprestadas de ninguém. Elas foram sendo tatuadas em meu corpo como um presente, depois de tão longa caminhada.

Nesta noite, meu anjo, teu sopro divino fez brotar, em meus olhos, toda a água da vida.


*Imagem: pintura de Fidel Garcia.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Moçambique

Helô só disse: Estou indo para Moçambique.
Mala na mão e porta afora deixando para trás o atônito João. Afinal, não podia se dar ao luxo de grandes explicações naquela altura do campeonato.
Em mais ou menos duas horas lá estava, em Floripa, Santa Catarina (lembrou-se de Paris, Texas).
Ficaria em algum lugar por ali até amanhã onde seguiria para Moçambique, seu encontro marcado com a poesia.
Era preciso comprar coisas essenciais: um caderno, um lápis e uma borracha, com um certo estilo.
Não se pode escrever sem um certo estilo, mas não conseguia escrever uma linha desde que tinha marcado o encontro.
Na verdade Helô desejava ler nos olhos, falar uma nova língua, trocar fluidos, suores, conter expressões para sempre em sua memória seletiva, guardar gestos, desfrutar prazeres, provar do sal e do sol, colher amores, ilusões passageiras, reter o vento, saborear a brisa, rir, borbulhar, amar, falar, calar, abraçar, beber tudo em grandes goles pela eternidade das paixões que nunca mentem, mas apenas se assemelham a chuva.
Tocar no mais sensível - o ponto de interseção, para que nenhum dos dois possa um dia pensar em voltar atrás.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Fôlego


A vida me fez sereia, assim eu escapo das dores.

Hoje eu estou sereia, Copacabana amanheceu pequena, eu preciso de mar aberto, para libertar grandes amores.

Hoje eu estou sereia, canto pra te ver preso aos meus encantos.

Hoje eu estou sereia, afinal no mar ninguém entrega os seus tesouros!

Sempre quis estar no mar durante uma tempestade sem medo.

Mais que sereia eu sou poeta e me imagino tua.

Poetas são transgressores por natureza, possuem a natureza da palavra.

E lá vou eu com a natureza de novo, qual a essência, eis a questão - existe essência então?

Ouço os pássaros, minha cantiga matinal, abençoado seja este meu lar!

Meu país é outubro, Pasárgada de primavera eterna.

Um dia os homens poderão voar e não terão super-heróis. Um dia todos farão terapia e tomarão posse de suas próprias histórias e nem precisarão torturar seus filhos.

Um dia a minha boca selará a tua e esta febre será nossa.

Um dia eu estarei face a face!


* Frases postadas no facebook.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Resposta







Algo aconteceu comigo. 














Algo impreciso, um desatino. Eu me dei conta de que o mar dentro de mim, ferve. 












Desesperada, emocionada, caminho a passos largos desejando ser mais eu e mais viva e mais bonita. Meu corpo estremece de prazer e de alegria. 












Estou apavorada! e rindo à toa, boba, boba... vai saber o que mudou, mas mudou tudo. De uma hora para outra eu sou mais eu e você não é mais inatingível, o poeta maior da minha vida, aquele que alcançou minha alma catarina, aquele pedaço de mim que ninguém sente e só eu vejo. 












São sonetos de amor que eu leio agora? Não me dei conta e ainda não acredito. Parece que me encontro em outra órbita, pronta para o encontro com o absurdo.












Minhas estrelas estão soltas na cabeça, e eu sonho desejos e poemas, versos que te encantem o coração e o corpo e te tragam para mim nesta nossa prosa de poetas. 












Porque você não me disse com todas as letras? Talvez eu tivesse escapado por entre seus dedos (duvido muito), eu sou tão doida, como saber que era eu? Sem chance, quando vc resolveu dizer? Se é que disse mesmo (eu ainda não sei, não, tô insegura!). Eu ando muito mais pro ascendente hoje em dia, rsrsrs... uma aquariana no mundo da lua! 












Por isso eu preciso tudo sim, sim ou não, não. Bem as claras pro tico e teco se entenderem, para que haja harmonia no templo, sem enganos. 












A tua liberdade me enternece e invade todas as minhas defesas. E eu me pergunto, pra que servem mesmo as defesas? Temerária, nem me lembro delas.









Só te quero, para além dos versos, poemas, prosas, da única forma que conheço: vorazmente.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Outubro

Amanhã é o dia do meu aniversário.


Comigo, faria aniversário Dina Sfat, símbolo de uma geração, com quem eu muito me identifico: em prosa e verso e beleza feminina.

Eu vejo em Dina Kutner de Souza o sol. Eu vejo em mim, o sol: através da minha pele, da luz do meu olhar, do desejo de viver, que ainda é muito maior que o desejo que por vezes me assola de desistir.

E, em todos os momentos, em que vi Dina num palco, desfeita em fragilidades, que eram a sua forma de reunir forças e se mostrar inteira, eu me via, em suas muitas faces, naquelas muitas mulheres que emergiam com a força de sua interpretação.

Ela preenchia todos os espaços, pouca gente devia suportar contracenar com ela, devia ser difícil mesmo lidar com a intensidade das suas emoções, das personas que se apoderavam dela.

Uma mulher franca e que expressava claramente seus desejos ou medos, algo de Clarice Lispector, muito de Cacilda Becker e, bem no meio deste universo, eu mesma, brilho neste palco de maneira diferente, mas sempre de alguma forma afirmando que sou.

Hoje, depois de tão longo aprendizado, eu sou. E muito do que sou aprendi com estas mulheres poderosas, que se forjaram no aço, de dentro para fora, no oito ou oitenta, para que agora mais serena possa viver o prazer de ter sobrevivido e a alegria das muitas cores que pintei pelo caminho.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Estrelas




QUANDO SINTO UMA TERRÍVEL NECESSIDADE DE VIVER, SAIO À NOITE PARA PINTAR AS ESTRELAS. (Vincent Van Gogh)

Quando li esta frase e vi esta imagem no blog: http://fadasuave.blogspot.com/, não resisti - precisava escrever e refletir sobre o que faço quando sinto uma "terrível necessidade de viver".

Primeiro deve-se notar a intensidade, não se trata apenas de uma necessidade, mas de uma terrível necessidade. E talvez este impulso venha da nossa vontade de não desistir, de nós mesmos. Parece que Vincent era muitíssimo intenso em sua necessidade de viver, de estabelecer vínculos através de sua arte personalíssima.

Eu já não sei se usaria a palavra "terrível", acho que falaria de gana, de tesão de viver.

Eu diria algo assim: Quando sinto este tesão de viver, acordo nas madrugadas para pintar versos.

Pois é pintar versos, edificar poemas, aquarelar sentimentos. Em breves traços, um retrato, uma paisagem, um desejo.

Dizem que os impressionistas captavam momentos em suas telas, instantâneos congelados pela eternidade aos nossos olhos que, nem sempre veem a intensão do artista, mas que acrescentam uma visão particular à cena retratada.

Também assim é o poema, assim a poesia, um tempo, entre o silêncio e a palavra, entre a intenção e o verso.

Mas quando será que sinto esta necessidade de viver? Eu digo, todos os dias. Posso estar cansada e um tanto absorvida por um cotidiano por vezes medíocre, como neste exato momento, e me viro, entro em meu blog e escrevo.

Escrevo pela necessidade de sair do comum, de acrescentar uma estrela ao céu que se põe frente aos meus olhos. Acrescentar uma estrela em teus olhos e poder voltar para casa em paz!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Diálogo imaginário

- Esquece teus outros amores... neste longo dia duas luas estarão no céu, eu e você. Somos dois poetas, dois atores - irremediavelmente amantes. E amante é aquele que ama e que porque ama acorda e ri prá vida, se espreguiça e tem em seus olhos estrelas brilhantes que não se apagam. Esquece por este dia apenas a tristeza, a melancolia e a distância. Você pode fazer isto?

- (...)

_ Eh, isso mesmo meu amor... imagina meu sorriso frente a frente com o teu, imagina meus olhos nos teus, imagina meu corpo em tuas mãos experientes e amorosas. Experimenta criar todo um filme, uma fantasia louca, não será tortura pouca ou melodia simples! Será teu vento, ventania, tufão em meio ao meu mar, trazendo altas ondas e fortes tempestades.

- (...)

- Ah, esse teu delírio me acompanha, me assanha, me movimenta. Você vai tão longe, por isso nos encontramos em palavras e versos, em nossa loucura e desmaio. Somos, hoje, muitos poemas sem rima ou métrica só um diálogo anguloso cheio deste prazer em estarmos tão perto nesta longa noite, duas luas postas no céu mudando o mundo!

- (...)

- Sim, eu descansarei em teu peito e dormiremos entre nuvens, o céu azul-marinho da noite nos acolhe e nos cobre. Tudo mudou, lá na terra brota uma semente orvalhada, ela crescerá se transformando em árvore frondosa cheia de lindas flores e gostosos frutos que alimentarão os famintos de amor e luz. Tudo será luz! Sol e céu azul e noites de descanso e conforto para todos, principalmente para os anjos.