quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Despedidas

Todos os dias eu digo: - este é o último!
e recomeço pelo beijo da despedida...

Ensaio um adeus definitivo, te digo um monte de desaforos,
mas você ri, esse teu riso de menino e eu não sei mais onde deixei meu texto pronto,
meu rumo, meu destino.

Somos muito parecidos, por isso - adeus!
estou indo para nossa cama agora.

Chega! Agora eu ponho um ponto final neste nosso filme passional.
Muito dramático?  Então que tal um ponto e vírgula?  Uma vírgula?  
E um travessão?

Te deixo todos os dias desperdício.
Depois, escondida, vou ler teus versos escritos em tuas páginas em branco.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Maximus Cantus

um haijin 
abre a janela
- desperta um haicai

Na verdade esta haijin chama-se Nydia Bonetti e o seu livro Minumus Cantus.
Mestre em sua arte, a cada página, o leitor encantado vê despertar um haicai delicado, sutil, pinceladas no papel tal qual um sumiê. Através de rápidos traços temos todo o canto deste rouxinol livre, que canta sua poesia de forma profunda e leve como a brisa:

vergam meus ombros
sob o peso das pétalas
dos miosótis

É claro, que eu digo dessa magia em alto e bom som o que se reflete no título que dei para este texto, na verdade eu deveria dizer: Maximus cantus em mínimos versos!
No fim de tudo permanece o prazer de ler os haicais de Nydia uma, duas, três, infinitas vezes... é desta forma , através desta mágica que a poesia nos ajuda a viver cada dia.
E viver, como todos sabem, não é fácil.
A poesia cresce e se esparrama pela humanidade através de mãos sábias e sensíveis como as da haijin, nos resta CELEBRAR.
Finalmente querida amiga e poeta, Nydia Bonetti, podemos tê-la conosco todos os dias e declamar baixinho, como numa oração:

já é abril
vou abrir as janelas
e ouvir o vento

sábado, 24 de novembro de 2012

Vênus

Abro a porta do apartamento, estava exausto.
Meus olhos cansados se acostumam rapidamente à penumbra da sala.
Paro a porta para inspirar, sentir o perfume da casa. Minha casa, nossa casa. Fecho a porta atrás de mim devagar, em respeito ao silêncio e a paz reinantes.
Logo as vi, as minhas gatas, esparramadas no sofá. Deixo a pasta e o paletó na cadeira e me sento na poltrona, por instantes, para observar a cena, toda aquela preguiça, tão lindas... a gata, logo levanta as orelhas como que para se certificar de que era eu mesmo que havia chegado, a velha Nana. A outra, minha gata gostosa, nem se moveu. Dormia profundamente no sofá, por certo, cansou de me esperar, vestia apenas as meias e as ligas, tão sexy...
Sem pressa fui deixando as roupas pelo caminho, tomei um banho e voltei renovado para o sofá, na cabeça e no corpo a imagem e a sensação das peles, das bocas, da umidade, do calor, dos prazeres, dos desejos, do sabor de vênus.

domingo, 4 de novembro de 2012

Demência

Um calafrio repentino me fez ficar atento, alerta.
Pressenti que alguém estava por chegar... por Deus, aquilo parecia cena típica de um filme de terror.
Uma campana, naquela picada aberta, fora da estrada observando a casa, que parecia ter sido abandonada há muitos anos. Meu coração começou a acelerar, um carro vinha devagar pela estrada deserta.
 - Será que vai parar, finalmente?
Parou. Nisso meu coração quase saiu pela boca!
Ele saiu do carro e repetiu cada detalhe do que sempre fazia sem desconfiar de que estava sendo observado. Depois de algumas horas, pegou o carro e voou pela estrada, como de costume. Acendi um cigarro e fumei calmamente para afastar a ansiedade e para me certificar de que ele não voltaria.
Então, fui até a casa. O homem havia limpado todo o samgue, mas lá estava ela disposta em cima da mesa, cortada em pequenos pedaços cirúrgicos. Respirei fundo, que perfeição de detalhes, uma pintura cubista!Tirei várias fotos e fui embora, tendo o cuidado de eliminar qualquer vestígio da minha presença naquele lugar, qualquer dia, ia montar uma exposição com todas as obras daquele artista, por ora, sua obra ficaria exposta somente para mim, para o meu prazer pessoal e para mais ninguém.

domingo, 16 de setembro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

Luto


O sol se põe em São Paulo. 

                                                                                                                   
Os sinos da igreja soam ao longe, 

anunciam o fim desse dia. 

São como trombetas nos lembrando

que 

somos mortais, que a carne em que 

habitamos em algum momento apodrece

 e 

vira pó: retorna a terra.

O que resta? Uma (teo)ria, um conjunto de sonhos e 

memórias e a história de uma vida curta que aos poucos 

desperta e se percebe morta ou nova criatura. De qualquer 

forma, suponho que isso não seja surpresa para àqueles que 

despertam.

A grande questão é para quem fica e perde e parece, este 

sim, viver sempre num pesadelo incompreensível.

Já perdi todos os meus grandes amores: meu pai e minha 

]mãe e agora, minhas irmãs. Primeiro Marina (ou Neném) e 

agora a Glória (ou Gogóia ou Gó ou só Dinda), minha 

segunda mãe. Ô Gó, ainda vou chorar muito a sua ausência.

 Hoje somos três mulheres, cada uma significa um caminho, 

uma estrada, entretanto, por amor, fazemos nossos 

caminhos se cruzarem e por aí seguimos, fazendo nossa 

pequena família crescer nos amigos que acumulamos e 

adotamos (e que nos adotam) pela vida afora.

Metamorfose

Lentamente as asas se descolam do corpo e parecem criar 

uma vida independente. 


Fecho os olhos. Já não sinto mais meu peso: sou como uma


pena a flutuar no ar, mesmo que ainda um tanto 


desajeitada. Sinto todos os cheiros, todos os climas, todas as 


correntes de ar. 


Respiro bem devagar e aprumo meu corpo e sobre a pele 


sinto nascer um desenho interno. Quem eu sou agora? Não 


importa quando toda a mudança se processar eu saberei, eu


serei alguém completamente novo neste mundo e o 


encontro com outros como eu será irremediável.