sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Musa



Helô acordou bem cedo e com a nítida sensação de que seu tico e teco tinham viajado a um mundo paralelo.
Mas nesta manhã, suas conexões neurais haviam sido restauradas e ela pode rever, mentalmente, tudo que tinha dito pra ele na noite anterior e riu, riu muito.
Errou feio, tudo porque não entendeu o que significava, para ele, a palavra “inspiração”.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A casa caiu




Da mesma forma como entreguei o ouro para ti, neste momento, venho com minhas mãos cheias de lágrimas - de raiva!

Você conseguiu fazer do amor um jogo, um poema capenga, de rima fácil e pobre, parabéns. Deu a última palavra, tirou de mim tudo que podia e agora se encontra assim, placidamente feliz.

Segue em seu ritmo, criando suas frases de efeito.

Ninguém sabe da tua crueldade... do veneno que destilas.

Pensas que arrancaste minhas asas? Eu continuo a amar todo verbo, toda a beleza que a tua maldade concebe sem perceber que pra lá de todo mal, a beleza desfaz a escuridão e ilumina
meu olhar.

Eu continuo a ver além de você, muito além das tuas artimanhas, meu coração não se prende a ti.

E um dia ele estará completamente liberto, para sentir através de ti e tu não serás mais que neblina que se esvai.

E a medida que desabafo neste meu espaço, mais livre eu me sinto e mais próxima estou deste momento.

O momento de finalmente poder dizer-te: ADEUS!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Contradições



Contradições



... mas o que eles não sabem levar em conta é que o poeta é uma criatura essencialmente dramática, isto é, contraditória, isto é, verdadeira.

E por isso, é que o bom de escrever teatro é que se pode dizer, como toda a sinceridade, as coisas mais opostas.

Sim, um autor que nunca se contradiz deve estar mentindo. (Mário Quintana)








tô na chuva

na bagunça

no batuque

o coração

se acostuma...





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por tudo eu voo,

por isso eu sonho,

portanto durmo:

dias inteiros...









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tudo em mim transpira amor

- asas pra que te quero?

elas me levam inexoravelmente pra ti



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fico procurando as tuas cartas pela casa, mas não é que, com o tempo, desapareceram todos os remetentes!



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não tenho medo de (quase) nada:

o que não vivo me exaspera!



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o amor sempre me atrapalha:

meto os pés pelas mãos, visto as calças pela cabeça e outras pirações populares!









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espero o sol:

apenas o sol tem o poder de me fazer esquecer!



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minhas asas me levaram a uma grande altitude: as lágrimas congelaram.



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o tempo passa

eu enfio o pé na jaca

asas no carnaval

Borboletas



No casulo do poema, meu corpo se entrega...


Tenho tatuadas no meu corpo pequenas borboletas coloridas. Elas voam nos teus sonhos.


Minha alma, que toda noite alça longos voos, possui amigos inimagináveis.



Voo sedenta.
Que boca, que língua, que pele, a mim pode oferecer umidade e frescor?


Sou parceira da tempestade, adoro a ventania! Quando chego faço um estrago nos corações incautos.


Que bom sair do ninho dos teus braços! Minhas asas me libertaram deste entorpecente...


no carnaval
os amores
não usam
máscaras!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Carta de um amigo


Cynthia,obrigado pelo envio das imagens do nosso Rio antigo.



Dele sou dono de poucas coisas materiais, um ralo,talvez.Quem sabe de um meio-fio,pedaço de uma grade que hoje cercam as praças, de uma pedra portuguesa que se deslocou do piso,de uma tampa antiga de calçada e fragmentos de borracha que os veículos soltam nas suas freiadas.Coisas poucas.



No entanto, de muitas imateriliadades eu tenho certeza possuir e começo pelo sol generoso,as noites de luas, qualquer delas, o vento mormo das tardes quentes de verão,essas montanhas, florestas,praias longas sem fim do leme ao pontal e por ai vão,banhando corpos que são todos meus, nas minhas fantasias, sendo mulher: é minha!



Afinal, eu sou pobre, mas não sou burro!



E de tantas outras coisas que eu queria Cynthia, materias que não tenho, nem me importo,desde que não me subtraiam o Cristo Redentor, Pão de açucar, enfim...



Mas bate em mim uma vagotonia,coisas dos antigos, hoje reformatada para angustia,depressão e o que se sabe mais, quando penso na minha incompletude de sentimentos e grandes prazeres, como os de nunca ter sentido o aroma no ar da sua passagem,da compassada batida inaudível do seu coração por nossas ruas e praças, de um sorriso seu perdido em algum lugar, nem sei onde, mas sei que poderia tê-lo achado.



Não achei!



E nestes ares do Rio de Janeiro que não consegui respirar, ai sim o passado me cobra uma fatura com juros extorsivos.



Vou então para a beira do mar, sentir o cheiro de maresia,única maneira que encontro de respirar você.



É como se dizia: O importante é que a nossa emoção sobreviva!



Abração carioca.



PS .Estou lhe mandando a música para que você saiba que esta emoção já não foi cantada.

http://www.youtube.com/watch?v=ri8R8_IiICg&featurehttp://www.youtube.com/watch?v=x0bwaaCzjOU=related


Nota: Quem me escreve este delicioso email é Paulo Tamburro, meu querido amigo virtual e carioca, que manda muito bem no blog: http://paulotamburro.blogspot.com/.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Asas














Voltei a ter asas. A intenção é voar, voar, por sobre as águas calmas do mar, ser uma com os ventos.

Quando voo, as asas cantam...

Pairei sobre as palavras: umas machucam outras fazem cócegas e há ainda aquelas que me tiram o ar!

- Eu falo demais, eu sei...

mas se eu não falo, como saber o que sinto? como entender o que sonho?

Longas distâncias percorri; o tempo e o espaço se uniram por mim, sou uma louca inspiração!

O poema surge desta minha necessidade febril de viver.

O poema surge desta minha necessidade apaixonada de tocar o outro.

O poema surge do desejo de ser.

Os arranha-céus, nem chegam perto do céu. Apenas atrapalham um tanto o nosso voo.

As aves se espantam com a minha liberdade.

Eu confesso: dou asas as minhas fantasias todas!

Minhas asas? Não as peguei emprestadas de ninguém. Elas foram sendo tatuadas em meu corpo como um presente, depois de tão longa caminhada.

Nesta noite, meu anjo, teu sopro divino fez brotar, em meus olhos, toda a água da vida.


*Imagem: pintura de Fidel Garcia.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Moçambique

Helô só disse: Estou indo para Moçambique.
Mala na mão e porta afora deixando para trás o atônito João. Afinal, não podia se dar ao luxo de grandes explicações naquela altura do campeonato.
Em mais ou menos duas horas lá estava, em Floripa, Santa Catarina (lembrou-se de Paris, Texas).
Ficaria em algum lugar por ali até amanhã onde seguiria para Moçambique, seu encontro marcado com a poesia.
Era preciso comprar coisas essenciais: um caderno, um lápis e uma borracha, com um certo estilo.
Não se pode escrever sem um certo estilo, mas não conseguia escrever uma linha desde que tinha marcado o encontro.
Na verdade Helô desejava ler nos olhos, falar uma nova língua, trocar fluidos, suores, conter expressões para sempre em sua memória seletiva, guardar gestos, desfrutar prazeres, provar do sal e do sol, colher amores, ilusões passageiras, reter o vento, saborear a brisa, rir, borbulhar, amar, falar, calar, abraçar, beber tudo em grandes goles pela eternidade das paixões que nunca mentem, mas apenas se assemelham a chuva.
Tocar no mais sensível - o ponto de interseção, para que nenhum dos dois possa um dia pensar em voltar atrás.